quinta-feira, 8 de outubro de 2009

CONSTRUTIVISMO RUSSO EM CHAPECÓ

Os movimentos vangardistas na arquitetura são elementos da história , mas estão também presentes no dia a dia das cidades e em seus elementos, não só em construções históricas ou monumentais, mas em edificações comuns que se valem desses preciosos conceitos para trazer o belo para a paisagem urbana e para o estilo de morar.

Prestando atenção, podemos identificar um toque dessas vanguardas bem debaixo de nosso nariz.  Eis, então, que decobrimos em Chapecó uma bela casa, licalizada na Rua Antônio Morandini, com traços muito marcantes do Construtivismo Russo.





(foto: Gabriela Caramori)         

                       
Essa construção apresenta formas geométricas puras e dispostas de maneira irregular. As cores caracterísiticas do Construtivismo Russo, como o preto, o vermelho e o cinza são muito marcantes nessa curiosa residência, que utiliza uma interessante composição de pedra e vidro como materiais predominantes.


                                                                                                                                                           (foto: Gabriela Caramori)        

                                     
Passear pela cidade e notar as suas peculiaridades é uma maneira gostosa de se aprender a arquitetura. Nada melhor que observar  a dinâmica urbana para perceber a vida e os elementos históricos nos conceitos arquitetônicos. Para isso, nem sempre é preciso viajar  a uma grande  metrópole, pois, muitas vezes, encontramos os movimentos vanguardistas escondidos, calados bem perto de nós.

Art Nouveau



 Fonte: chameleon-interiors.blogspot.com Acessado em: agos. 2009
A foto a cima é do fascinante Hotel Tassel  (1892-1893) em Bruxelas. Uma obra de arte que reune as características da Art Nouveau como: assoalhos com ricos mosaicos e paredes pintadas em torno de um poço de escada profusante decorado em um refinado jogo com as flores e formas vegetais que carcterizam o estilo. Entre outras características estão: 


  • A Arte Nouveau vem de formas vegetalistas;
  • Vem da necessidade de exprimir uma nova era de modo adequado;
  • Curta duração, mas muito expressivo;
  • Buscou seu modelo na natureza;
  • Refere-se mais a decoração de interiores e ilustração do que arquitetura propriamente dita;
  • Características: linhas curvas das árvores e pétalas entrelaçadas;
  • Movimentou profundamente a estética moderna;
  • Na arquitetura essas formas vegetais da natureza foram transportados para novos materiais de construção: vidro, ferro e uma vez que se colocavam os novos materiais construtivos sem revestimento misturando com tijolo, pedra aparelhada ou mármore (até então desconhecido);
  • Diversos nomes: Arte Nouveau (França), Arte Nova (Português), Modem Style (Inglaterra), Style Liberty (Itália), Modernismo (Espanha);
  • Construções em ferro, os pilares apresentavam curvatura de grande elegância, dominavam vidro que pareciam pedras preciosas, de padrões florais, estilizados ou com formas vegetalistas (seu efeito é realçado pelo colorido e delicado), tendência de decoração excessiva do tipo Rococó;
  • Mosaicos de formas movimentadas, com pedaços de vidros e azulejos;
  • Peças de cerâmica;
 

Inspiração

 
Fonte: Matheus, agos. 2009
Baseado nas caracteristicas do Construtivismo Russo movimento de vanguarda ocorrido na Russia no ínicio do século XX, foi elaborado um material que procura estabelecer relações com os conceitos defendidos por esse movimento, um porta canetas entre outros, levando em consideração a confecção de um objeto prático.Tendo inspiração inicial com a forma do edifício do Clube Rusakov, de Melnikov (1928), a partir daí, as formas geradas foram evoluindo de maneira a buscar a expressão de um pouco das características marcantes do movimentos, tendo composição com formas geométricas puras com volumes suspensos, dispostas de maneira irregular em planos inclinados. Introduzindo um prisma no centro, e ao seu redor colocados dois paralelepípedo e dois cubos. Uso das cores simples, atrás das quais os construtivistas acreditavam das vida as obras,como vermelho, preto e amarelo, que assim como a natureza dá vida aos seus elementos.


Fonte: Matheus, agos. 2009

 Fonte: Matheus, agos. 2009
Buscou-se também, inserir tipografias, as quais eram igualmente bastante trabalhadas na época, caracterizadas por letras geométricas em caixa alta e em negrito. Com a frase : “A revolução começa pela sua mão”. Em alusão ao poder de transformação que a ação humana detém, e que é expresso e se faz sentir a partir do simples gesto do traço do lápis ou da caneta, elementos ligados ao uso do objeto criado. As cores usadas nas letras, branco com contorno vermelho, lembram igualmente a filosofia construtivista, que associava o vermelho à revolução. Entende-se, hoje, revolução em um sentido diferente, com o poder de transformação do mundo e da sociedade que parte das idéias e reflexões tomadas no dia-a-dia.
 
 

quarta-feira, 7 de outubro de 2009


    
     O construtivismo, assim como o suprematismo russo, foi um movimento surgido no início do século XX, no contexto da Rússia revolucionária. Ambos canalizam uma rejeição comum aos padrões típicos das belas artes e a busca da expressão das cores e formas puras e geométricas, em resposta a um contexto histórico que galvaniza sua atividade criadora, sendo ambiente propício para uma "explosão de criatividade por parte desses artistas.
     Aspectos diferenciavam os construtivistas dos suprematistas, como a crença de que a arte deveria servir a um objetivo social, ideal seguido apenas pelos construtivistas. Tais divergências geraram conflitos que impediram que ocorresse um movimento de arte unificada na Rússia da época.

     As obras do suprematismo são caracterizadas e facilmente reconhecíveis pela presença de formas geométricas puras, organizadas através da composição de planos horizontais, verticais e inclinados. Destaca-se o uso de cores simples, através das quais os artistas acreditavam dar vida às suas formas assim como a natureza dá vida aos seus elementos.



Abstrato. Kasimir Malevich, 1916. Óleo sobre tela, 79,5X70,5 cm. Fonte: http://www.artinthepicture.com/paintings/Kasimir_Malevich/Suprematism-nr-58. Acesso em 28 set. 2009.

Os construtivistas projetaram desde mobiliários e tipografias até cerâmicas e indumentárias, buscando aplicar nessas atividades os conceitos da arte abstrata.

As tipografias construtivistas eram marcadas pela predominância de cores em tons brancos, cinza, preto e vermelho (esta última para eles era símbolo da Revolução).


Tipografia construtivista. Fonte: http://aulas.pro.br/blog4/?p=11. Acesso em 04 out. 2009.
 
     O protótipo da Torre de Tatlin, o Monumento à Terceira Internacional, é uma das expressões mais lembradas do Construtivismo russo, unindo conceitos de arte, arquitetura e escultura. Não chegou a ser edificada.
 
    
Protótipo do Monumento à Terceira Internacional. Fonte: http://aulas.pro.br/blog4/?p=11. Acesso em 28 set. 2009. 
 
      Nela, uma gigantesca estrutura de aço sob a forma de uma dupla espiral entrelaçada e pintada de vermelho abriga três volumes de vidro: um cubo, um cilindro e uma pirâmide, que giram a diferentes velocidades.


       Um dos destaques da arquitetura construtivista é Konstantin Melnikov, projetando obras como o Clube Rusakov (Moscou, 1928) e o pavilhao soviético da exposição de Art Decô ( Paris, 1925) .


     Clube Rusakov.Fonte:http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e7. Acesso em 28 set. 2009.


Fonte: http://www.ufrgs.br/propar/domino/2005_01/txt05_2005_01.htm Acesso em 28 set. 2009.

     Em comum, essas obras condensam, do ponto de vista de GLANCEY(2001), uma paixão coletiva em romper a grade dos edifícios tradicionais introduzindo elementos repentinos na diagonal ou espiral, com o uso de gráficos propagandistas e até mesmo colisões de várias partes dos edifícios.

     O construtivismo russo, apesar de ter sido interrompido na Rússia com a imposição do realismo socialista pela ditadura de Stalin,  ainda inspira arquitetos contemporâneos, como Zaha Hadid e Daniel Libeskind.


Projetode edifício para Fundação de Arquitetura, em Londres, por Zaha Hadid. Fonte: www.london-se1.co.uk/news/view/1942 .Acesso em 05 out. 2009.



Felix Nussbaum Museum, Osnabrück, Alemanha, projetado por Daniel Libeskind. Fonte:http://box.plotcad.it/public/post/daniel-libeskind-felix-nussbaum-museum---osnabrueck-germania-183.asp. Acesso em 05 out. 2009.

     É facilmente reconhecível em suas obras a composição de formas e planos sob a lógica construtivista. Nota-se o hábil jogo de planos e volumes, sem esquecer, é claro, dos consagrados planos inclinados na diagonal. Visto de cima, o Felix Nussbaum Museum, de Daniel Libeskind, não lembra a composição irregular de formas geométricas das pinturas suprematistas?

     Comparações também podem ser feitas a partir de exemplares da própria arquitetura brasileira:
Mostra-se aqui a "casa praça", obra executada por Maculan e Moraes em Nova Lima, Minas Gerais.





Casa em Nova Lima-MG, por Maculan e Moraes.
Fonte: http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/fernando-maculan-e-pedro-morais-residencia-nova-14-07-2009.html. Acesso em 05 out. 2009.


   Percebe-se que a residência exibe um rompimento da grade convencional, através da inserção dos planos inclinados como elementos que criam uma identidade que igualmente remete ao ideário construtivista.

Acessar o artigo que mostra detalhadamente o projeto desta casa
    
   
     Assim, mais uma vez, retoma-se a idéia que o construtivismo russo, apesar de ter sido dissolvido, perpetua-se através de diversas obras e arquitetos contemporâneos que o têm como fonte de inspiração.Assim, trata-se de um movimento de vanguarda bastante significativo e que revela clara influência sobre a arquitetura contemporânea.

E você, conhece alguma obra contemporânea que lembre o construtivismo russo? Faça comentários e participe você também dessa discussão.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

NÔMADES DO TEMPO



O que você faria se um dia descobrisse que pode conhecer o passado sem ler nos livros? O que você faria se pudesse caminhar em qualquer rua, de qualquer tempo ou época?

Você guardaria esse segredo? Nós guardamos.


Embarque nessa viagem!






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sábado, 3 de outubro de 2009

Classicismo Americano em Chapecó?


Casa , Chapecó -  SC. Fonte: Matheus Rigon, ago. 2009.




Esta casa está situada junto à Rua Clevelândia, em Chapecó - SC. O que nos levou a  tecer esse comentário é a maneira como o sistema construtivo nela presente se assemelha com o padrão encontrado em exemplares da arquitetura do classicismo norte-americano, bem exemplificado pelo prédio da Biblioteca da Universidade de Virgínia, construído no início do século XIX.




Tal qual naquele, ocorre nessa casa a mesma combinação da alvenaria de tijolos aparentes com elementos de origem clássica, o mesmo contraste das cores... claro que tudo a uma escala bastante reduzida, basta comparar os 23 metros de altura do edifício da notável Biblioteca com os não mais de 4 metros de altura dessa  casa de ares neoclássicos.





Biblioteca da Universidade da Virgínia. Fonte:http://static.panoramio.com/photos/original/8877336.jpg. Acesso em 05 ago.2009.



Casa , Chapecó - SC. Fonte: Matheus Rigon, ago. 2009.

Ocorre uma profusão de frontões – aqui, em sua maioria, surgem dos próprios oitões da casa. Não deixam de se fazer presentes também as cornijas que surgem dos beirais e contornam o perímetro da casa e, para completar, um frontão sustentado por duas colunas com capitéis inspirados na ordem dórica (aparentemente inteiriças, negam a idéia histórica vinculada ao ábaco, placa quadrada que, sobreposta ao conjunto, arremata o capitel dórico).

Capitel. Fonte: Matheus Rigon, ago. 2009.






Capitel dórico. Fonte:http://www.cimentoeareia.com.br/capiteldorico.jpg. Acesso em 02 out. 2009.

E aonde foi parar a noção de escala humana que esses elementos da antiguidade clásssica carregam em seu contexto original? Percebe-se em exemplos como o dessa casa a banalização da arquitetura clássica e das suas origens, deixando-se de ao menos  buscar, em obras contemporâneas, reinterpretá-la a partir de reflexões críticas sobre a produção clássica, para, ao invés disso, simplesmente repetí-la através de cópias na maioria das vezes mal-feitas.


Estamos abrindo uma enquete para saber o que os leitores desse blog pensam sobre esse tipo de arquitetura na contemporaneidade, a fim de ampliar a discussão sobre, reunindo opiniões sobre o assunto. Participe você também!

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Universidade de Virgínia



















Obra: Universidade de Virgínia
Localização: Charlottesville, EUA
Construção: 1817 - 1826
Arquiteto: Thomas Jefferson


O prédio da Biblioteca da Universidade da Virgínia é uma obra que remete, em suas características plástico-formais, a características compositivas de outras obras da antiguidade, fazendo parte do chamado "classicismo americano".


Olhando a princípio, é possível identificar em sua fachada a presença de alguns elementos típicos da antiguidade clássica, como o pórtico com o pódium, colunas com capitéis, frontão e arquitraves e a rotunda coberta por domo e circundada por cornijas.




Mas o fato mais surpreendente desse prédio é a semelhança exacerbada que estabelece com o Panteão romano, edifício da Antiguidade Clássica, construído em 27 a. C.












Enquanto o Panteão foi construído em pedras, o prédio da Biblioteca é edificado usando alvenaria de tijolos e acabamentos em estuque branco.

Apesar de ter sido construído na metade da escala do Panteão, o prédio da Biblioteca da Virgínia revive as mesmas proporções matemáticas nele presentes, como a equivalência entre o diâmetro da rotunda e a altura da cúpula.


Entretanto, a semelhança entre as obras parece transcender a questão da forma, aplicando-se também à filosofia de uso do espaço:


“... uma rotunda com pórtico inspirada no Panteão, na Virgínia interpretado como Panteão democrático, templo laico da sabedoria depositada nos livros.” (RODRIGUEZ LERA, 2006.)

Assim, enquanto o Panteão é o templo de "todos os deuses", a Biblioteca de Virgínia, em sua majestosidade, apresenta-se como o templo do saber.

Mas algo nisso tudo nos provocou um questionamento: ao se elaborar o projeto da Biblioteca da Universidade de Virgínia, não se pensou nos quase dois milênios que a separam da época em que o Panteão de Agrippa foi erguido? Assim como a sociedade evolui em suas diversas áreas do conhecimento, também as técnicas e conhecimentos construtivos evoluem, e por conseguinte os estilos arquitetônicos deveriam constantemente buscar a originalidade, e não a simples repetição de padrões passados sob uma linguagem no mínimo antiquada.

Seria ético na contemporaneidade tentar reviver épocas passadas através dos elementos que compõem a forma de um edifício? Infelizmente isso ainda se faz muito presente nos edifícios que estão ao nosso redor.


REFERÊNCIAS


RODRIGUEZ LERA, Ramón. Breve História da arquitetura. Lisboa: Editorial Estampa, 2006, p. 174.

GLANCEY, Jonathan. A história da arquitetura. São Paulo: Loyola, 2001, p. 124-125.