sábado, 3 de outubro de 2009

Classicismo Americano em Chapecó?


Casa , Chapecó -  SC. Fonte: Matheus Rigon, ago. 2009.




Esta casa está situada junto à Rua Clevelândia, em Chapecó - SC. O que nos levou a  tecer esse comentário é a maneira como o sistema construtivo nela presente se assemelha com o padrão encontrado em exemplares da arquitetura do classicismo norte-americano, bem exemplificado pelo prédio da Biblioteca da Universidade de Virgínia, construído no início do século XIX.




Tal qual naquele, ocorre nessa casa a mesma combinação da alvenaria de tijolos aparentes com elementos de origem clássica, o mesmo contraste das cores... claro que tudo a uma escala bastante reduzida, basta comparar os 23 metros de altura do edifício da notável Biblioteca com os não mais de 4 metros de altura dessa  casa de ares neoclássicos.





Biblioteca da Universidade da Virgínia. Fonte:http://static.panoramio.com/photos/original/8877336.jpg. Acesso em 05 ago.2009.



Casa , Chapecó - SC. Fonte: Matheus Rigon, ago. 2009.

Ocorre uma profusão de frontões – aqui, em sua maioria, surgem dos próprios oitões da casa. Não deixam de se fazer presentes também as cornijas que surgem dos beirais e contornam o perímetro da casa e, para completar, um frontão sustentado por duas colunas com capitéis inspirados na ordem dórica (aparentemente inteiriças, negam a idéia histórica vinculada ao ábaco, placa quadrada que, sobreposta ao conjunto, arremata o capitel dórico).

Capitel. Fonte: Matheus Rigon, ago. 2009.






Capitel dórico. Fonte:http://www.cimentoeareia.com.br/capiteldorico.jpg. Acesso em 02 out. 2009.

E aonde foi parar a noção de escala humana que esses elementos da antiguidade clásssica carregam em seu contexto original? Percebe-se em exemplos como o dessa casa a banalização da arquitetura clássica e das suas origens, deixando-se de ao menos  buscar, em obras contemporâneas, reinterpretá-la a partir de reflexões críticas sobre a produção clássica, para, ao invés disso, simplesmente repetí-la através de cópias na maioria das vezes mal-feitas.


Estamos abrindo uma enquete para saber o que os leitores desse blog pensam sobre esse tipo de arquitetura na contemporaneidade, a fim de ampliar a discussão sobre, reunindo opiniões sobre o assunto. Participe você também!

4 comentários:

Laura Linhares disse...

Creio que, infelizmente, cópias do passado acontecem em todos os lugares e estilos. Essas edificações não condizem com o tempo em que são construídas e ficam fora de sintonia com o entorno. Acredito que é possível utilizar elementos da arquitetura clássica nos dias atuais sem copiá-los.
Por fim, cabe a nós, futuros arquitetos, não permitir que a banalização da arquitetura clássica não aconteça.



Laura Linhares

QuInTeTuRa HiStÓrICa disse...

Concordo plenamente com o que a Laura falou e também com o comentário do grupo sobre a utilização de uma arquitetura clássica sem coerência, que banaliza as características do estilo e que faz com que nós, futuros arquitetos, estudantes destes movimentos, nos sintamos envergonhados. Sim envergonhados em ver que ao invés de evoluirmos acabamos regredindo fazendo esse 'mal uso' que muitos, leigos, acham bonito.
Podemos fazer a diferença para que isso não mais aconteça em nossas cidades e honrar a nossa profissão e a época em que vivemos!

Júlia Debastiani

Unknown disse...

É com sentimento de tristeza que eu vejo esses exemplos de arquitetura que banalizam a arquitetura de nossa cidade.

Existem tantas formas de expressar a arquitetura clássica sem precisar fazer uma copia do passado, podemos utilizar uma linguagem mais contemporânea e materiais inovadores.

Criar uma arquitetura clássica não significa copiar e implantar colunas e frontões em nossos edifícios, mas sim entender a proposta e idéia que esse tipo de arquitetura quer transmitir a nós.

Renato Slomski

Matheus Rigon disse...

Bem lembrado Júlia, muitos realmente acham bonito mesmo…

Deixa eu contar uma historinha que aconteceu comigo esses dias...

Lá estava eu em frente a um típico edifício com elementos de composição historicista...um frontão grego pousado em plena Chapecó (e não me refiro à HAVAN não, mas à Capela Cristo Redentor).

Estava tentando achar o melhor ângulo para uma foto daquelas que estariam entre os exemplos do que do meu ponto de vista nunca se deveria fazer, e então chega uma senhora e diz:

“Bonito né ?”

Simplesmente respondi:

“Daria uma bela discussão. Não sei se seria ético para nós, profissionais de hoje, construirmos réplicas do que foi feito há mais de 2000 anos atrás.”

E então a mulher começou a falar:

“Pois é, vem gente de diversos lugares e acham muito linda a NOSSA capela.”

(quem sabe havia me confundido com mais um admirador daquela “arquitetura”)

E continuou:
“É cópia de uma obra lá de Curitiba, foi MEU MARIDO quem conseguiu os moldes (...)”

Pensa no susto! A mulher poderia ter ficado ofendida com o que eu disse, mas não sei se não entendeu direito ou ignorou.

Bela coincidência eu ter encontrado justamente aquela pessoa e não outra...

Às vezes nos deparamos com situações desse tipo, mas não podemos deixar que nosso olhar crítico se cale, não importando a quem a nossa palavra se dirija. Coincidências também acontecem, e devemos estar preparados para reagir a elas. Sensibilidade é tudo...

Espero que tenham gostado.

Abraço a todos.